terça-feira, 23 de outubro de 2012

A xará me detesta


Vocês lembram meu primeiro dia no curso de francês, que descrevi alguns posts atrás, certo? Muito bem. Como disse, tinha considerado o fato de a professora ser minha xará um sinal muito positivo do Cosmos.

Sempre (colégio, faculdade, pós-graduação e todos os demais cursos que fiz na vida) fui aquela aluna proativa, que gosta de participar das aulas e responder às perguntas dos professores, porque é uma forma de a gente verificar se, de fato, entendemos a matéria e estamos progredindo. (Ok, mais conhecida como “a pentelha”, se preferirem, ligo não!)

Só tem um detalhezinho que emerdalha (do verbo emerdalhar) tudo: a porra da minha língua não cabe dentro da boca! Juro por todos os phrasal verbs que sei de cor (e que não são poucos, graças às aulas sensacionais do Britannia) que não faço por mal. Quando vi, já foi; a piada saiu, mas, porra, a professora deixa a bola quicando na minha frente...como desperdiçar?

Exemplos:

1)     Professora ensinando a diferença entre “emprestar”, “passar” e “dar”: “Pode me passar o sal?”, “Pode me emprestar sua caneta?”, “Pode me dar uma folha de papel?”

Pois bem, muito didaticamente, ela levou para a sala uma sacola cheia de objetos que poderiam ser “emprestados”, “passados” ou “dados”. Na minha vez, óbvio, ela tirou uma nota de 20 dólares da carteira e me perguntou qual era a pergunta mais apropriada. Porra, sob meu ponto de vista e devido às atuais circunstâncias, não havia dúvida! Mandei, no maior amor, toda delicada, com aquele jeitinho meigo que Deus moderadamente me deu: “Ah, donner, hã, professeur? La situación est noir.” (A situação está preta!). Desconfio de que ela não achou graça...(Sem humor, tãnãnã...)

2)   Outro dia, ela ficou espantada quando se deu conta de que já estávamos entrando em novembro e veio com a história de que novembro é um mês triste porque Québec entra no horário de inverno, escurece cedo etc. Eu, muito indignada, respondi: “Mais porquoi c’est un moin trist? C’est ma fête!” (Como assim um mês triste? É meu aniversário!”). Ok, concordo que poderia ter ficado quieta, mas eu AMO o mês do meu aniversário. Foi uma questão de divergência de opinião...
3)   Ela estava praticando a fonética do francês com a gente, um tanto difícil por conta do tal do “u” com biquinho, bem diferente do [u] e do [i]. Fez um ditado, e a gente tinha de ticar a coluna certa, correspondente a cada fonema. Como, sem qualquer falsa modéstia, fui abençoada por Deus com um ouvido filho da puta de bom, audição aguçadíssima por conta da genética (família de músicos e cantores) e pelos 500 anos de estudo de música, acertei todos os exemplos. Na hora da correção, só eu respondia. Até que ela perguntou: “Só temos uma aluna na sala?” Mas, porra, eu tenho culpa de nego ser surdo?
4)   No início das aulas, ela nos havia mandando comprar um espelhinho para olharmos nossa boca articulando na hora de produzir os sons. Todo mundo achou meio cricrizice demais da parte dela, e ninguém comprou. Ela vinha insistindo e, na aula passada, ameaçou merrrmo: “Quem não trouxer o espelho na aula que vem – hoje – não entra."  Quando ela pediu para que pegássemos o nosso e foi o procurar o dela, não achou. Porra, eu podia perder essa bola? Mandei um “Tsc, tsc, tsc, professeur. Pas du mirroir? Tu ne vas pas pouvoir entrer dans la classe, Fofa!” (“Ai, ai, ai, professora, não trouxe o espelhinho? Vai poder entrar na sala, não, fofa!”) Exagerei, né, reconheço, mas, quando vi, já tinha saído.
5)   Hoje, foi foda. Ela mandou umas folhinhas de dever de casa. A cópia indecentemente ruim, toda escura. Devolvi o exercício em branco, com um bilhetinho explicativo, em francês mesmo, na disciplina: “Aí, professora, deu pra ler, não. A cópia está muito escura.” Vejam se não tenho razão: nem com visão de raio x!






Fora os meus ataques de riso. São tantos, que ela ensinou como se fala em francês: “Fous rires”. Porra, ela precisa entender que não tenho qualquer controle sobre meus “fous rires”. Já imaginou se eu tivesse “Fous choros”? Bem pior!

Tudo ia muito mal, até que (1) ela sacou que eu aprendia as paradas rápido porque fiz Letras, portanto sei o que significa artigos definidos, indefinidos, alfabeto fonético internacional, o que (2) facilita horrores a vida dela porque, quando ela precisa dar algum exemplo geral e escolhe alguém pra responder à pergunta que serve de exemplo, quem ela escolhe? Pois é. Grandes possibilidades de, até o fim do curso, a gente se amar, sem a necessidade de DR.

Bisous et bon soir à vous!

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